Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Palimpsesto

"Para sobreviver é preciso contar histórias“

03 Set, 2022

Três Mulheres

"Três Mulheres" é um título da Editorial Presença, escrito pela jornalista norte americana Lisa Taddeo, que empreendeu um exaustivo trabalho de pesquisa durante dez anos, viajando pelos Estados Unidos, para recolher a história de três mulheres comuns, em diferentes fase de vida e de diferentes origens sociais. O tema central é o desejo e a sexualidade feminina. Como vivem as mulheres a sua sexualidade? O que desejam? Que fantasias têm? O que esperam?

A autora começa por informar que esta é uma obra de não ficção. As três histórias apresentadas neste livro são cedidas pelas próprias protagonistas, e o seu conteúdo é tão verdadeiro como tantas outras outras histórias, de tantas outras mulheres.

Maggie, Lina e Sloane, são essas três mulheres.

Ao ler este livro não pude deixar de me lembrar da pergunta de Freud, trinta anos decorridos de trabalho clínico, essencialmente com mulheres: “Afinal, o que querem as mulheres?” À luz desta pergunta, à qual falta contexto e prosódia, diria que a premente interrogação é, afinal, o que querem as pessoas? Sobretudo e essencialmente, quando falamos de desejo, de sexo, de prazer e de fantasia.

Haverá muitas repetições, muitas histórias que até parecem diferentes, mas se revelam uma repetição alocada a um sentir. Cada uma destas mulheres tem necessidades diferentes, uma deseja ser amada, outra deseja ser compreendida e a outra deseja ser desejada.

Maggie, uma adolescente de dezassete anos que se envolve emocionalmente com o seu casado professor de inglês. A ambiguidade que alimenta esta relação mantém Maggie numa esperança obsessiva que dura treze anos. O desejo transformou-se em ressentimento e a fantasia de conto de fadas converte-se em uma dolorosa sede de vingança. A história de Maggie é ilustrativa de um dos clichés românticos mais comuns e transversais, mas de todos os caminhos possíveis, Maggie empreende o mais duro, e quando termina a relação, aos trinta anos, a sua vida é um profundo vazio.

Lina, uma dona de casa, mãe de dois filhos, com um casamento de dez anos. A sua vida é uma repetição quotidiana de gestos funcionais, qual operário de manutenção familiar: cozinhar, limpar, tratar dos filhos. A distância emocional entre o casal constitui um fosso de águas paradas, que apodrecem e a deixam com falta de ar. Lina sofre de ansiedade e tem ataques de pânico, o melhor remédio é fazer circular o fluxo libidinal, e as redes sociais são a salvação no deserto emocional. Quando Lina reencontra um velho amigo, no Facebook, e inicia uma aventura em direção a si mesma, o que encontra não é o mar de rosas que sonhara.

Sloane é uma empresária bem-sucedida e feliz no casamento. Partilha com o marido o mesmo fetiche, ele gosta de observar, ela de escolher os parceiros, que podem ou não partilhar. Tudo vai bem até que Sloane começa a questionar-se sobre os limites do seu desejo, onde termina o desejo do marido e começa o dela? A sua função, de satisfazer a todos, sempre foi bem-sucedida, mas, quando os sentimentos despertam novas direções no mapa relacional, surgem questões que colocam a própria estrutura relacional em causa.

É um livro profundo, íntimo, mas sobretudo de uma grande generosidade.

2 comentários

Comentar post