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Palimpsesto

"Para sobreviver é preciso contar histórias“

02 Jan, 2021

O primeiro dia...

2020 foi um ano de muitas leituras adiadas. A promessa de tempo disponível foi gorada por tantas alterações, imprevistos e ajustes, que ainda que quase sempre estivesse a ler mais do que um livro, soube sempre a tempo esquivo. Também não escrevi tanto como gostaria. Este blog fez o seu primeiro ano dia 29 de Dezembro, já mudou de aspeto pelo menos três vezes, e talvez ainda mude outras tantas. Já fico satisfeita se não voltar a apagar publicações inadvertidamente...

Ainda assim, balanço feito, apercebi-me que, em tempos complexos, reler pode ser uma forma de identificar como um tema está arrumado internamente, e uma forma de perspetivar o momento. Tenho algumas “vacas sagradas”, perdoem-me a heresia, às quais volto por segurança, confesso. Foram elas, Pierre Bourdieu Meditações Pascalianas e Carl Gustav Jung, este último embora seja leitura recorrente, destaco Resposta a Jó. Reli também Albert Camus O Mito de Sísifo, Dostoiévski O Sonho de um Homem Ridículo, Bohumil Hrabal Uma Solidão Demasiado Ruidosa, Nassim Nicholas Taleb O Cisne Negro e Marjane Satrapi Persépolis.

A melhor descoberta do ano foi sem dúvida Olga Tokarczuk Outrora e Outros Tempos, mas também Yuval Noah Harari Sapiens. Richard Zimler foi outro autor que marcou o ano, O Último Cabalista de Lisboa e À Procura de Sana.  

Voltar a Verena Kast, desta vez com Sísifo, foi uma interessante forma de voltar também aos clássicos, Homero Odisseia, para ir relendo com calma, e a Károly Kerényi A Mitologia dos Gregos.

Outros livros que li, Lydia Davis Não Posso nem Quero, Maria Dueñas O Tempo Entre Costuras, Lisa Tadeo Três Mulheres, Junichiro Tanizaki Diário de um Velho Louco, Nassim Nicholas Taleb A Cama de Procusto, Margareth Atwood A Senhora Oráculo, José Eduardo Agualusa Os Vivos e os Outros.

2020 foi um ano parco em leituras...

O ano de 2020 bem podia ter sido escrito por Lewis Carroll, senão vejamos, quantas vezes aconteceu sentirmo-nos cair num buraco escuro para seguir um coelho atrasado? Coelhos atrasados todo o santo ano! E a quantidade de vezes em que encolhemos e esticámos? em tantos sentidos que nem vou enumerar! E quantos dias houve em que acordámos de manhã e sabíamos quem éramos e ao final da tarde já tínhamos mudado tantas vezes que.... Quantas vezes vos ocorreu o pensamento somos todos loucos por aqui?

... pois! Por via das dúvidas comprei uma cama antistresse para a gata.  

Foi também um ano em que compreendemos que se não sabemos para onde queremos ir, qualquer caminho serve. Que todos os momentos são bons para tomar chá. Que podemos fazer qualquer coisa dentro de casa, até jogar criquete. Que podem acontecer coisas tendencialmente impossíveis, antes ou depois do pequeno almoço. Que olhar para o espelho – que é como quem diz, a nossa imagem por videoconferência – durante muito tempo, nos transporta para outras realidades. Que é preciso correr muito para não sair do mesmo lugar. Tão certeira a rainha de copas!

O ano de 2020? Cortem-lhe a cabeça!

A ver o que nos reserva a Lebre de Março...